Folia de Reis em Porangatu – 60 anos de tradição

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O 06 de janeiro, dia de Santos Reis, foi aguardado com muita expectativa em Porangatu.

A família Vasconcelos, há 60 anos celebra essa importante religiosidade popular que virou tradição porangatuense.

Faz parte do calendário familiar, dos amigos e dos devotos da cidade que providenciam almoços, pousos e jantares para receber os foliões em suas residências.

A proprietária da casa, também chamada de “festeira” é Luzia Rodrigues Vasconcelos que juntamente com seu esposo José Anselmo Vasconcelos (falecido), participaram da primeira folia em 1963.

No início da década de 1950, Fortunato Alves Coelho (Natinho), mudou-se de Natinópolis (atual, distrito de Goianésia), para Porangatu, região do Barreiro, hoje Linda Vista.

Como era muito querido, o lugarejo levou seu nome. Natinópolis, é uma homenagem ao velho Natinho, já falecido, foi um folião de guia muito  respeitado.

Ao chegar em Barreiro, ao lado de sua esposa Otávia Rosa dos Santos,  mantiveram o costume  de rezar o terço em devoção aos Três Reis Santos, (Belchior, Gaspar e Baltazar), que segundo a tradição cristã foram os primeiros a visitar o local do nascimento do menino Jesus, o filho de Deus.

Com a chegada das Famílias de José Isaías/Liudimira dos Santos e Joaquim dos Santos/Luzia dos Santos, para o Barreiro, Natinho, deu-se início à formação da primeira Folia de Reis em 1963.

Com a finalidade de dar continuidade à essa devoção, os foliões mais velhos foram passando a tradição aos mais novos.

Dessa forma, surge a Família Farias Vasconcelos, tradicionalmente instalados na fazenda Cambuí, próximo ao Barreiro. Darci Farias Vasconcelos, nascido no dia 25 de abril de 1944 na cidade mineira de Pitanguí, é o mais velho dos dez irmãos da Família Vasconcelos.

Tradição é passada de pai para filho. Rafael Vasconcelos, garoto de 9 anos, é palhaço mirim da Folia de Reis em Porangatu.

Indo a passeio em sua terra natal, trouxe umas sementes da árvore Cambuí, que originou o nome de sua fazenda, muito conhecida em Porangatu.

Muitos devotos utilizam o nome da fazenda para referenciar o comemorado festejo, “Folia de Reis da Cambuí”.

Outro irmão que tem destacado papel da Folia de Reis da Cambuí, é Francisco Garcês Assis Vasconcelos, o “Chico”, que é um “embaixador” ou “capitão” da Folia. Para exercer essa função é necessário profundo conhecimento da história bíblica, sobretudo, à respeito do nascimento de Jesus Cristo. Pois, o embaixador dá início às cantorias em forma de estrofe que tem a  repetição apenas do último verso pelo demais foliões que cantam em primeira, segunda, terceira, quarta e quinta voz.

Os cantos de uma folia ficam ainda mais emocionantes com a combinação de instrumentos típicos como: violas, violões, sanfona, pandeiro, reco-reco e caixa de folia, que soam uma perfeita sinfonia sertaneja.

Uma peculiaridade nessa Folia de Reis é  função do “Alferes”, aquele que é o portador da bandeira durante todo o trajeto da folia. Geralmente essa função é atribuída aos homens, nesse caso vemos, Ana Maria Vasconcelos, que desde  criança participa dos festejos em homenagem aos três Reis Magos.

Durante os pousos, após a reza do terço, os foliões realizam algumas danças folclóricas, embora com coreografias parecidas,  possuem diversos nomes, como: ferro-fogo, adoremos, bendito, maxixe, serrador e dança da onça, essa que era uma das mais bonitas, está praticamente extinta.

O ritual de uma folia começa com o Canto de Saída na casa do festeiro, onde os foliões fazem uma belíssima cantoria em  agradecimento ao almoço, em seguida  faz a retirada da bandeira e dá-se início às visitas nas residências.

Existem vários cantos como, pedido e agradecimento das esmolas ofertadas pelos devotos e o canto da chegada nos pousos com saudações aos arcos enfeitados de palha, bambu e outros ornamentos, geralmente são dois ou três arcos.

Ao adentrar na casa, os foliões fazem a Saudação ao Presépio do Menino Deus, onde encontram-se pequenas esculturas simbolizando  a sagrada família, Jesus, Maria e José.

Ao lado da Sagrada Família estão as imagens dos três reis magos que levaram para Jesus os presentes, ouro, incenso e mirra.

Após saudar o presépio e realizar as “brincadeiras”, que são as danças folclóricas, os foliões posicionam-se ao redor de uma enorme e farta mesa para o saboroso jantar regado a arroz, feijão tropeiro, carne de porco “na lata”, frango com pequi e guariroba e outras iguarias provenientes do cerrado.

Como gesto de gratidão  à acolhida e ao jantar oferecido, o canto de  agradecimento da mesa, torna o ambiente encantador com os versos do “bendito”, seguido das orações “Pai Nosso”, “Ave Maria” e “Glória”, cantados à capela.

O último pouso, chamado de “Entrega da Folia de Reis”, acontece no sexto dia de peregrinação dos foliões que recebe o nome de, “giro”.

O festeiro é o responsável por organizar o jantar e a festa de encerramento que geralmente termina com um animadíssimo forró que vai até ao clarear do dia, sob muita animação e calorosos gritos no meio do salão.

Euclides de Souza Goianinho

Academia Porangatuense de Artes e Letras – cadeira nº 11.

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