A Região Norte de Goiás experimentou um desenvolvimento tardio em relação ao sul e sudoeste do estado por muitos motivos. Clima, posição geográfica para a logística, falta de proximidade de grandes centros consumidores e de comércio, demora para a chegada de infraestrutura, estradas, comunicação. Ainda assim Porangatu liderou um esforço pioneiro hercúleo para trazer investimentos para a região e antecipar realizações incríveis. Isso é mérito de seu povo que no século XX transformou a cidade em centro de sonhos, pensamento, educação, cultura e investimentos. Hoje temos aqui 3 emissoras de rádio e 2 de Tv, além de impressos e portais de internet, para falar só no setor de comunicação, mostrando a força intelectual e política que a cidade aglutinou. No setor industrial também temos realizações importantes que acompanham e influenciam (em via de mão dupla) a economia da região.
Nesse artigo eu quero falar sobre as 3 oportunidades de desenvolvimento que Porangatu e região tiveram e que estão paralisadas, sendo que delas depende a prosperidade do futuro. Elas são a Fábrica de Biodiesel, a Ferrovia Norte-Sul e a duplicação da BR-153.
A Galvão Engenharia S/A adquiriu a concessão do trecho da BR-153 que vai de Anápolis/GO até Aliança do Tocantins/TO, um trecho de 624 quilômetros que passa por Porangatu, em maio de 2014. A concessão previa a duplicação da BR com previsão de conclusão até 2019, investimentos de R$ 6,84 bilhões (em valor de 2012). O anúncio da concessão e da duplicação foi com justiça muito festejada pela cidade, naquele tempo parecia que a região iria ter um desenvolvimento muito acelerado graças a chegada de muitos investimentos e aos ganhos logísticos que a rodovia traria. Só que 2014 foi o ano marcado por uma virada na economia e na política brasileira. Logo o otimismo viraria decepção.
A Galvão Engenharia é uma das empresas do grupo Queiroz Galvão, foi uma das empresas alvo da Operação Lavajato e que teve as operações inviabilizadas pela operação judicial, que agora está tendo suas decisões anuladas na justiça. Por causa do indiciamento, a Galvão Engenharia perdeu as certidões negativas que permitiam a aquisição de empréstimos junto ao BNDES, o que inviabilizou a realização das obras da BR-153 e provocou mais tarde a caducidade do contrato. Esse foi o primeiro contrato de concessão de rodovias rompido no Brasil. Assim foi adiado o sonho de desenvolvimento acelerado da região por pelo menos 10 anos.
Agora, em 2011 a Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT publicou um novo edital de concessão incluindo trechos da BR-080 e da BR 414, compreendendo um arco de via opcional a BR 153 de Anápolis até Uruaçu somando 850 km concedidos. O edital prevê a duplicação obrigatória da BR-153, sendo 357 km entre o 3º e o 10º ano da concessão e mais 265 km entre o 19º e o 25º ano de concessão. O primeiro trecho de duplicação previsto vai até Porangatu. A licitação está prevista para este mês. Se tudo correr bem teremos a BR-153 duplicada até 2031. Serão ao todo 9 praças de pedágio e o modelo de licitação prevê a combinação dos critérios menor tarifa e maior valor de outorga. Uma empresa já se interessou e retirou o edital na ANTT.
A outra oportunidade adiada foi a construção da Ferrovia Norte-Sul, que colocaria nossa região em uma posição logística privilegiada. O objetivo dessas obras é diminuir o custo e o tempo para percorrer distâncias, reduzindo diferenças de competitividade entre empreendimentos próximos aos portos e centros consumidores e os empreendimentos que estão distantes, como é o caso da região de Porangatu.
A Ferrovia Norte-Sul também trará uma grande vantagem competitiva para o escoamento da safra e de produtos da agroindústria e abrirá possibilidades para outras atividades na região, industriais principalmente. Mas a má execução da obra pelos responsáveis da época, pessoas que conhecemos e que temos que cobrar pelos maus feitos, colocaram uma montanha de dúvidas e suspeitas sobre a ferrovia e travam sua implementação. O Governo Federal precisa ser transparente, esclarecer quais são os problemas que estão atrasando a plena operação da Ferrovia e se apressar para resolvê-los.
Por fim, gostaria de dedicar o espaço para a nossa querida Bionasa, que agora foi vendida para a Olfar, e também é um projeto que promete resistir e apesar de adiado por alguns anos voltar a iluminar a prosperidade do desenvolvimento de nossa região. A Bionasa foi um empreendimento com a marca do pioneirismo e o esforço hercúleo do povo de Porangatu. Foi uma grande pena quando teve que ser fechada.
Agora com a retomada da operação pela Olfar reacende a esperança de desenvolvimento não só para sua atividade industrial mas também para os produtores rurais da região, que podem voltar a apostar no cultivo de oleaginosas para abastecer a indústria de biodiesel. Mas para que dê certo plenamente alguns entraves políticos e econômicos devem ser enfrentados e superados. É um absurdo que a produção do biodiesel de Porangatu tenha que passar por uma distribuidora para ser misturada ao diesel comum, fazendo uma viagem de centenas de quilômetros e não revertendo em barateamento do combustível para a região.
A regulação estranguladora da Petrobrás, com a obrigação de participação nos leilões de compra que imobilizam a produção e colocam a indústria de biodiesel em dependência desses leilões também traz insegurança para toda a cadeia. Essa é uma cadeia de quase um ano de produção, porque vai do plantio da semente até o refinamento do biodiesel dependente no final de um leilão que a Petrobrás faz quando lhe convém.
No livro A Economia Política do Etanol, o economista goiano Fernando Safatle propõe a quebra do monopólio na distribuição do Etanol, liberando as usinas para vender combustível diretamente para o posto de gasolina da esquina. Suas teorias também podem ser aplicadas para o Biodiesel para ampliar os mercados, baixar custos e gerar renda distribuída para muitas regiões do país fora dos grandes centros, principalmente para Porangatu.