
Já diziam há algum tempo que o Brasil não é para amadores. Na verdade, como toda história longa e cheia de reviravoltas, algumas coisas quando vistas de relance parecem totalmente sem sentido. Na semana passada eu fiquei devendo um aspecto crucial na defenestração do PP do governo Ronaldo Caiado. Alexandre Baldy, funcionário de Dória, pedia a Caiado que apoiasse Arthur Lira, do seu partido, o PP, para a Presidência da Câmara Federal. O presidente Bolsonaro esteve filiado a esse partido por 11 anos, saiu em 2016.
Portanto, Caiado rompeu de forma intempestiva com o PP goiano para depois ver seu partido, o DEM, se dividir para que a maioria apoiasse Arthur Lira, abandonando Rodrigo Maia, o ex-poderoso Presidente da Câmara que achava ter sob controle seu partido, em um deserto político. Evidentemente, isso abre uma crise dentro do DEM e das referências de direita no país. Ver seus parlamentares correrem como pintos atrás de milho para apoiar Arthur Lira mediante a promessa de Bolsonaro de pagar com 4 ministérios e 3 bilhões de reais em emendas a eleição de seu protegido.
Caiado errou rude com o PP goiano. Agora Baldy estende a mão para o governador, que para reatar essa relação com certeza terá que oferecer muito mais que a relativamente pequena Secult. Baldy oferece o perdão dos vencedores e mostra a habilidade política que faltou a Caiado na semana passada.
Bolsonaro parece ter alcançado uma vitória expressiva. Quem olha as pesquisas de popularidade pode ver contradição dessa vitória com a grande queda em sua popularidade. Bolsonaro perdeu seu projeto muito antes. O acordo com o Centrão já é uma alternativa de sobrevivência para o governo, que talvez já tivesse caído se mantivesse o caminho de ataques ao STF, ao Congresso e o pedido de intervenção militar. E também precisamos lembrar o preço enorme pago pelo governo federal em dinheiro público. Bolsonaro teve que dividir o poder e agora manda cada vez menos.

Fala-se na recriação de vários ministérios da época do PT, revivendo a estrutura administrativa daquela época. O Ministério das Cidades seria recriado e entregue a Valdemar da Costa Neto e seu PL. Valdemar da Costa Neto foi preso e condenado por corrupção no escândalo do mensalão em 2013 e teve seu nome envolvido também no caso do Petrolão. Em 2016 ele foi perdoado por induto presidencial de Michel Temer.
Também se falou em recriação dos ministérios da Previdência, da Cultura e da Pesca. O Ministério da Educação será entregue ao grupo político de ACM Neto, do DEM da Bahia, em paga pelo apoio do DEM, de Ronaldo Caiado. Isso é uma evidente derrota do projeto bolsonarista com a desidratação dos seus ministérios ideológicos, e um avanço para o MEC, que já teve Abraham Weintraub em seu comando. Na conta do Centrão também estão prometidos o Ministério da Saúde e do Turismo.
Como vocês, amigo e amiga leitores, podem ver, Bolsonaro já não manda em tudo. Teremos outro Governo Federal a partir dessa eleição do Congresso. Ainda fica a dúvida de como o temperamento descontrolado de Bolsonaro, que demitiu Mandetta do Ministério da Saúde por excesso de competência e holofotes, que mantém uma regra tácita de proibir ministros de darem entrevistas ou aparecer com o governo, vai reagir a esses novos sócios do governo, que não aceitarão esse tipo de cabresto. Lembrando que esses sócios têm nas mãos mais de 60 balas de prata, que são os processos de impeachment já apresentados e que podem ser postos em apreciação com um estalar de dedos.
Por fim, vale falar do horror e asco da festa na casa de Arthur Lira para festejar a vitória do Centrão nas eleições da Câmara e do Senado. Uma mistura de karaokê com carnaval, música de mal gosto, gente de terno, mulheres bonitas e malucos mal encarados com camisetas verde e amarelas ou pretas com o rosto do Bolsonaro. O carnaval do escárnio, temperado com Covid-19, 4 ministérios e 3 bilhões de reais.